Dizia-me

Mamãe dizia que não podia brincar com carrinhos ou outros brinquedos que generalizavam ser de meninos, e ao mesmo tempo não podia brincar de ser criança.
Mamãe dizia que ninguém era como ninguém, e ao mesmo tempo associava minha teimosia com meio mundo.
Mamãe dizia que era pra engolir o choro, e ao mesmo tempo batia para que ás lágrimas caíssem. 
Mamãe dizia que vivia cansada de mim, e ao mesmo tempo pegava outras crianças para cuidar.
Mamãe dizia que meu irmão era o querido, e ao mesmo tempo não era da boca pra fora.
Mamãe dizia em estar feliz com papai, e ao mesmo tempo parecia que gostaria de estar sozinha, até mesmo sem filhos.
Mamãe dizia que os monstros viviam no escuro, e ao mesmo tempo eles viviam na luz do dia. 
Mamãe dizia, papai retrucava, ambos se calavam.
Mas naquela noite, papai não era o mesmo, e talvez nunca tenha sido, a menina que tanto pediram era objeto pra descontarem a raiva.
Mamãe, mamãe, mamãe...dizia tanto e quando foi pra ser torturada, sofrer as consequências do mundo e adoecer nessa estrada não disse nada.


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